O Grupo Carmin desenvolve desde 2007 pesquisas em dramaturgia original a partir de uma escuta social aberta. Foi assim em “Pobres de Marré” (2007), quando a condição de mulheres em situação de rua nos bairros da Ribeira e Cidade Alta, em Natal, RN, capturou nossa atenção.

Já em 2010, enquanto elaborávamos relatos sobre o nosso próprio envelhecimento, de novo a rua nos ofereceu a possibilidade de encontrar uma frasqueira e, dentro dela, fragmentos da vida de uma mulher de 90 anos. Desse encontro nasceu “Jacy” (2013), peça que inaugura nossa entrada no Teatro Documental, linguagem que tem como base a construção de uma dramaturgia que parte de documentos reais, fatos e ficção, sem necessariamente hierarquizá-los na construção de uma narrativa historiográfica.

Depois de “Jacy”, continuamos aprofundando essa pesquisa documental e descobrimos, na obra da escritora indochino-francesa Marguerite Duras, material relevante dessa fricção entre fatos vividos e fatos inventados. Em 2015, estreamos “Por Que Paris?”, resultado dessa investigação, que também nos levou a cunhar o termo Dramaturgia Audiovisual, um elemento forte no nosso trabalho.

Após as eleições brasileiras para presidente em 2014, o contato com declarações xenófobas contra nordestinos fez com que a atriz e diretora Quitéria Kelly conduzisse o grupo a uma nova etapa de investigação, dessa vez para tratar da História inventada sobre nós que nos criamos no Nordeste do Brasil. Em contato com a obra do historiador Durval Muniz Albuquerque Jr., montamos “A Invenção do Nordeste” (2017). Com esse espetáculo, ganha força outra característica que atravessa as nossas produções desde o início: a comicidade, a provocação do riso como forma de tomar distância da depreciação e criar uma abertura para que o público dê atenção a assuntos sérios e urgentes, ou, como quis Georges Bataille, para uma “atitude filosófica”.

Em 2020, seguimos investigando Dramaturgia Audiovisual e temáticas sociais, agora para elaborar uma ficção científica sobre a classe média brasileira. “Gente de Classe” é a nova peça do Carmin que, devido à pandemia do novo coronavírus, teve sua estreia adiada. Durante o período de quarentena, motivados pelos temas que surgiram na pesquisa desse novo espetáculo, retomamos nossa primeira obra, “Pobres de Marré”, que continua surpreendente e tristemente atual e em Março de 2021 estreamos a peça com novo elenco.

 Além da remontagem de “Pobres de Marré” durante o período pandêmico fizemos experimentações em vídeo de duas cenas de “Gente de Classe” que recentemente nos rendeu o Prêmio de Melhor Atriz para Quitéria Kelly e Melhor Roteiro para Henrique Fontes e Pablo Capistrano pelo Festival Humor na Tela. E produzimos uma versão para as telas de “Jacy”, intitulada “A Frasqueira de Jacy”  e agora em abril lançamos virtual “A Invenção do Nordeste” com repercussão positiva e recorde de público simultâneo.

Nesse processo de pesquisa continuada, o Grupo Carmin avança na tessitura de narrativas do Teatro que alguns chamariam de “Teatro do Real” ou “Historiografias de Artistas”, transitando entre a ficção e os documentos reais para lançar um olhar crítico sobre os tempos em que vivemos.